Mais perto da ausência, às cegas
e sem música de fundo, te procuro.
Ah o naturalismo das palavras,
tão nuas, tão sem subterfúgio —
por mais que se tateie,
caladas quatro paredes em cal.

Aquém deste limiar, às vezes
me  envergonho, às vezes
me acovardo, com os dedos
e o medo em busca de uma saída
fácil, de emergência,
como quem fugisse
de uma vingança.

De dentro da breve roupa
do corpo, de pernas
reais, servis, sem raízes
e as mãos sujas
mas remissíveis, sobre
a urgência da mesa lisa,

                          te procuro —

e quase desisto, vexado
da minha ridícula nudez de palavra.







Só mesmo a solitária clave

de um pássaro — estendendo
em plena tarde, nas janelas
dos edifícios, em becos e túneis
do metrô, céus avulsos — pra
desarmar a bomba-relógio
que rege o dia.